Next solo show: The Falls / As Quedas, Convento de São Francisco, Coimbra
Como percecionar a passagem do tempo? Ou melhor, como medir a força do próprio tempo?
As Quedas / The Falls é uma exposição que investiga a passagem do tempo, inspirado pelos fenómenos físicos observados nas Cataratas do Niágara, junto da fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos da América, e no arquipélago das Berlengas, junto à costa de Peniche, em Portugal.
Hipnotizado e atraído pela colossal massa de água em movimento, Nuno Cera explora – através do vídeo e da fotografia – o excesso do real: a cada segundo, precipitam-se do topo das cataratas 1,6 milhões de litros de água, salpicados pelo verde viridente dos sais dissolvidos pela força erosiva do rio Niágara. O som da água em movimento ajuda a aclarar a mente e diminuir a depressão. Além disso, os invisíveis iões de oxigénio de carga negativa lançados para o ar pela água que se despenha têm um efeito positivo no corpo humano.
Como percecionar o fluxo de água e energia que jorra continuamente como uma torrente de vida até cair abruptamente, como se o tempo tivesse parado, ou o próprio tempo tivesse sido libertado?
Cera convida os espectadores a refletir sobre estas questões, enquanto são seduzidos pela experiência audiovisual do seu trabalho e pelo espaço do próprio convento.
Criada para a Sala do Capítulo do Convento de São Francisco, esta instalação imersiva é constituída por um vídeo justaposto a três fotografias: um autorretrato, que projeta a sombra do artista sobre o leito marinho das Berlengas, e duas fotografias de um barco carregado de turistas que imprudentemente vagueia no gigante turbilhão das Cataratas do Niágara.
O vídeo é apresentado em três ecrãs – um grande e dois pequenos – e mostra três momentos distintos: uma vista exterior das quedas e duas vistas obtidas a partir do interior de portais cavernosos que se abrem na parede das cataratas, imediatamente por trás da vibração ensurdecedora da água que cai.
Recorrendo a uma progressão de planos e velocidades, o olhar de Cera conduz-nos através de um percurso que vai do macro ao micro, desafiando a nossa perceção do fluxo do tempo, desde as massivas quedas até à gota isolada. O som da água associado ao plano fixo da câmara transmite uma sensação de harmonia turbulenta.
Apesar de sentirmos que estamos a ser arrastados através do tempo sobre o fio da navalha que separa o passado fixo de um futuro em aberto, esse gume que é o presente não aparece em nenhuma das leis da física existentes. [1]
Julia Albani
A exposição inaugura no dia 27 de Janeiro, às 18 horas.
[1] Wolchover, Natalie: Does Time Really Flow? New Clues Come From a Century-Old Approach to Math, in: Quanta Magazine, April 2020.
